Joe Biden: o que muda no mundo?

Antes de iniciar o artigo, quero desejar a todos os leitores e leitoras do Portal Londres um excelente 2021.
Espero que este ano seja repleto de conquistas e muita saúde (principalmente muita vacina)!!!
Uma curiosidade de 2021: vocês sabiam que este será o ano que a terra vai girar mais rapidamente, isso se comparada aos últimos 50 anos? Pois é, teremos dias em média 0,5 milissegundos mais curtos que o normal. Portanto, para aqueles que já tem impressão que o tempo voa, literalmente ele está voando.
Vamos a política:
O ano de 2021 já se iniciou um tanto conturbado. Estamos no final do mês de janeiro e várias situações negativas já ocorreram – e continuam.
Brigas por vacinas, ou não vacinas;
Ministros que não entendem de logística;
Falta de oxigênio no Amazonas;
2ª onda e mutação de coronavírus;
Brasil atingindo mais de 200 mil mortes provocadas pela Covid-19;
Mundo atingindo mais de 2 milhões de mortes provocadas pela Covid-19;
Invasão no capitólio americano;
Ex-presidentes (e atuais também) imaturos e orgulhosos demais para reconhecerem que estão errados.
É de perder o fôlego com tanta notícia ruim! Mas, existe sempre aquela luz no fim do túnel até mesmo para os pessimistas e realistas. Eu, como uma realista, reconheço que essa luz chegou no dia 20 de janeiro de 2021, dia em que o 46º Presidente dos Estados Unidos, o Democrata Joe Biden assumiu o cargo para o qual foi eleito em novembro de 2020.
A vitória de Biden é histórica e simboliza muitas mudanças no âmbito doméstico norte-americano. E não se engane, os EUA ainda permanecem como principal economia no mundo, gerando um PIB anual de mais de 20 trilhões de dólares, portanto, o que acontece domesticamente neste país impacta o mundo como um jogo de dominó.
Vamos aos fatos e previsões:
Trump X Biden
A mudança de rumo da política norte-americana começou em novembro do ano passado com as eleições presidenciais, quando Biden venceu Trump numa diferença de 74 colégios eleitorais[1]. E apesar da pouca diferença de idade entre os candidatos, as retóricas de seus discursos são praticamente opostas.
Trump defende um discurso inflamado, divisório e nacionalista. Exalta a supremacia branca, é fã de líderes autoritários como Vladimir Putin e do ditador Kim Jong-Um. Incita o combate dos EUA com a China, adota políticas nada amistosas para imigrantes, principalmente os de origem muçulmana, e, refuta organizações e iniciativas multilaterais como a OMS (Organização Mundial de Saúde) e o Acordo de Paris (em prol do desenvolvimento sustentável ambiental).
Biden possui uma postura mais comedida e sóbria ao falar. Seu discurso defende valores humanistas, internacionais e liberais. Sem mencionar que possui um excelente gosto para escolher vice-presidentes.
Impacto Doméstico
No âmbito doméstico podemos esperar um combate mais agressivo contra a Covid-19, através de medidas mais restritivas sendo tomadas com respaldo em pesquisas científicas.
O novo Presidente também anunciou que não irá poupar esforços para investir em mais vacinação para a população[2]. Fontes próximas de Biden informaram que o combate a pandemia se tornou uma obsessão do novo Presidente.
Na esfera econômica, políticas mais proibitivas a favor de uma economia mais sustentável focada na proteção do meio ambiente serão tomadas, com alguns setores recebendo taxações punitivas. No seu primeiro dia de trabalho, Joe Biden já revogou a permissão da construção de um túnel de petróleo entre os EUA e o Canadá.
Tudo indica que o novo Presidente irá passar um pacote de alívio econômico de 1.9 trilhões de dólares para a população se recuperar dos impactos causados pela pandemia. Ele também aumentou o salário mínimo e sinalizou aumentar impostos, algo que pode sufocar a economia norte-americana, que no momento tenta se recuperar dos impactos causados pela pandemia.
Em contrapartida, podemos esperar um resgate aos valores liberais e mais ênfase em discursos em prol da tolerância e da integração. Biden enfatiza muito a união dos norte-americanos e procura resgatar valores democráticos que há 4 anos eram negligenciados pelo seu antecessor.
Menos políticas ultraconservadoras
Joe Biden já implementou ordens executivas[3] que refutam a proibição de viajar de imigrantes provindo de países muçulmanos para os EUA, mandou parar a construção do muro entre EUA e México e rompeu com a aliança mundial que se posiciona contra o aborto.
Internacional
Certamente, o modelo de governança multilateral e liberal será resgatado com essa nova administração. Especialistas afirmam que haverá uma retomada às tradições diplomáticas norte-americanas, algo que não acontecia na gestão Trump.
Os EUA perderam o posto de liderar projetos de cooperação internacional em prol de uma governança global baseada na estabilidade internacional e no “soft power”. Com Biden, esse posicionamento retornará.
Além da tentativa de retomada multilateral, os EUA certamente irão buscar reviver sua presença em organismos multilaterais como a OMS.
Em relação a China, na prática, não esperem muitas mudanças, embargos comerciais continuarão acontecendo, mas o que muda? Certamente, menos discursos provocativos contras as autoridades chinesas, ou seja, menos teatro e mais ação.
Esperem para ver a tentativa de retomada do acordo de não-proliferação nuclear com o Irã, além de um suporte ao acordo mais integracionista entre a União Europeia e o Reino Unido.
Uma relação menos amistosa com a Rússia e países com líderes autocráticos, incluindo o Brasil, Bolsonaro foi o último líder de um país democrata a congratular o novo Presidente norte-americano.
Últimas reflexões.
Tudo indica que Biden vai fazer história, e na minha opinião dois fatores importantes contam a seu favor para que isso aconteça:
- Pela primeira vez em anos, os democratas são maioria no Senado e no Congresso norte-americano, o que significa que Biden terá mais facilidade para passar projetos;
- Kamala Harris, a vice-presidente escolhida por Biden, uma mulher de origem imigrante, um marco histórico na política dos EUA. A nova vice, trará uma visão diferenciada ao alto comando da Casa Branca. Esperemos ver políticas mais progressistas em prol das mulheres e dos imigrantes.
[1] O Sistema eleitoral norte-americano é diferente do brasileiro. Nele o vencedor não é necessariamente quem tem mais votos numéricos e sim quem consegue levar mais colégios eleitorais. No caso de 2020, Biden levou 306 colégios eleitorais, e Trump ficou com 270.
[2] Já na primeira semana anunciou um arriscado plano de vacinar 100 milhões de americanos nos seus primeiros 100 dias de governo.
[3] Ordens que não precisam do aval do Parlamento americano para serem implementadas. Funcionam como nossas Medidas Provisórias.
- Joe Biden: o que muda no mundo? - 29 de janeiro de 2021
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Sempre fluida, informativa e com muito estilo a escrita de Maria. Parabéns por informar e refletir sobre temas atuais e de grande importância para a humanidade. Sempre com muita competência e leveza! Brava!