Quando o sistema falha na amamentação

“O meu leite diminuiu depois que eu tive que passar alguns dias internada no hospital por conta de uma infecção quando meu bebê tinha apenas poucas semanas. Lá eles não me ofereceram orientação alguma sobre ordenha de leite e nem bomba. Meu peito machucou muito por ficar muito cheio, e depois disso minha produção caiu rapidamente. Ao voltar para casa, a enfermeira comunitária disse que não tinha mais jeito pro meu leite voltar, e que era só oferecer fórmula que ele ficaria bem. Mas e eu?”
Esse é apenas um dos exemplos que ainda é observado em relação à falta de suporte à amamentação. Nesse caso, além da negligência no atendimento hospitalar, é possível identificar uma falta de informação sobre fisiologia da lactação a partir da enfermeira.
Toda mama saudável pode produzir leite, mesmo sem passar por gestação. Um exemplo disso são as mães adotivas que realizam estimulação e passam a produzir leite para seus bebês. Com o processo da gestação, a chance de amamentação exclusiva é ainda maior, pois há muito mais ajuda hormonal.
Quase todas as mulheres que gestam podem produzir a quantidade necessária para alimentar seus bebês. A regulação da produção de leite vai depender do quão bem e frequentemente o bebê mama ao seio e da remoção efetiva do leite a cada mamada.
Existem vários fatores que podem atrapalhar esse maquinário que envolve a amamentação. Não só o bebê precisa ser competente, tendo todos os movimentos orais funcionando adequadamente, como o contexto em que ele e a mãe estão inseridos precisam permitir e proteger que a natureza siga seu curso no processo.
O contexto do qual se fala inclui vários níveis: alguém que esteja cuidando dessa mãe recém-nascida e das tarefas que até então eram dela, profissionais de saúde que protejam os direitos de amamentação da mãe e a auxiliem com informação clínica adequada, família e amigos que demonstrem confiança na amamentação, sistema de saúde que ofereça suporte, governo que proteja o processo e promova conscientização, cultura e sociedade que respeitem as decisões individuais dos pais em relação à criação de seus filhos.
Quando uma mulher que quer amamentar não consegue fazê-lo, fala-se que não foi ela que falhou, mas o sistema que falhou com ela. E a culpa é carregada injustamente por ela. Algumas famílias têm sorte na assistência em saúde relacionada à amamentação, mas como é possível ver, nem todas. Não deveria ser uma questão de sorte.
Essa mãe brasileira morando no Reino Unido foi assistida por um sistema falho. O hospital falhou em não prestarem cuidado integral ao seu corpo. Os profissionais falharam em não referenciarem ela a um serviço de suporte à amamentação quando ela voltou para casa. A enfermeira comunitária falhou ao ignorar e desvalidar seu desejo de amamentar, e ao dizer que não haveria chance de seu leite voltar.
Hoje, depois de trabalhar com um plano de ação para aumento da produção de leite, essa mãe faz aleitamento combinado. Segue amamentando e também oferecendo fórmula infantil para complementar. Essa é uma alternativa válida. Apesar de ter processado o luto do desejo de amamentar exclusivamente seu filho, ela oferece ainda todos os benefícios da amamentação.
Entre a amamentação exclusiva e o desmame precoce, existem mil possibilidades.
Aqui no Reino Unido, existem diferentes níveis de auxílio com a amamentação, com a disponibilidade de pessoas com diferentes níveis de treinamento, desde grupos de apoio a profissionais especialistas. Temos à disposição de forma gratuita a National Breastfeeding Helpline no telefone 0300 100 0212, na qual se é atendida por mães que amamentaram e tiveram um treinamento sobre os desafios mais comuns. Também é possível encontrar consultores certificados – que são profissionais de saúde com qualificação específica – através do site da associação nacional: https://lcgb.org/
Texto por Marina Ferrari – Lactation Consultant IBCLC
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