O empreendedorismo fora dos Palcos

Pensar fora da caixa, ser disruptivo, inovador, mudar seu mindset, empoderar… Já ouviu alguma dessas expressões? Já ouviu que esse é o caminho para descobrir seu propósito? Então, vamos pensar juntos se realmente isso faz sentido?
Grande parte dos empreendedores de palco, que participam de grandes eventos no Brasil e no mundo, mas que nunca tiveram um negócio na vida, falam da importância da palavra: propósito. Essa palavra se transformou um grande mantra para muitos desses profissionais que entendem que antes de você abrir qualquer negócio, você deve ter um propósito claro, lindo e cristalino. Algo que seja motivo de orgulho a humanidade, inspire e transforme vidas.
E esse é um ponto de muita discussão porque na vida fora dos palcos, você pode até ter um lindo e transformador propósito, mas ele não se sustenta, ou seja, não paga seu aluguel, sua conta de luz, não há beleza que resista.
Um fato interessante nesse cenário, é que a realidade empreendedora hoje, é a do pequeno empreendedor, daquele ou daquela que luta para manter seu negócio em pé, com as contas no azul, sem dívidas no banco e muitas vezes ele é registrado como micro empreendedor. Então falar de proposito para esse desbravador da escuridão é quase falar em um idioma desconhecido.
A verdade é que nem sempre sabemos esse propósito logo no começo, muitas vezes ele vem devagar, com o tempo, outras ele nem aparece no início. Isso porque os motivos que levam uma pessoa empreender são os mais diversos: pode ser uma mera questão de sobrevivência, ou vingança, situação nova na família, paixão ou oportunidade. Digo isso por experiência própria, comecei a empreender aos 20 anos, e meu negócio de treinamentos já existia desde 2012, mas o que me deu foco, energia e gás, foi um divórcio na minha vida, que mesmo acontecido de forma amigável, era uma situação que precisava de mudança de atitude rapidamente. E nesse momento, eu não tinha muito tempo para pensar no proposito que tenho hoje. Na época era o que eu tinha em mãos e o que eu sabia fazer. Foram necessários muitos tombos, rasteiras e autoconhecimento para descobrir esse tal “cálice sagrado” chamado propósito que todo evento de empreendedorismo se fala tanto, hoje.
E com esse aprendizado você vai moldando, entre muitos tapas e beijos, O empreendedor da vida real tem crise existencial e às vezes ela é dura. Mas o lado B disso tudo é que essa crise pode ser boa, para você pensar no que é bom e, qual é a sua marca nesse mundo, chaves fundamentais para ir em busca de propósito. Porém essas crises nos faz sentir culpados, porque fomos criados em um país que não valoriza o empreendedorismo e sim o concurso público, o décimo terceiro, a carteira assinada. E aí quando você se arrisca e lá no meio do furacão, vê que as coisas não são tão cartesianas como você imaginava , bate uma sensação de “despropósito”. E aí vem toda uma cultura que não valoriza as incertezas do empreendedorismo. Uma das tantas diferenças entre Brasil e Estados Unidos é justamente essa: quando um empreendedor fecha uma empresa, uma loja no Brasil, é um fracasso social, na família, na sociedade e ele procrastina contar porque é uma vergonha pessoal. Nos Estados Unidos, se você está fechando algo hoje, pode abrir algo amanhã, e mais, a pergunta é: O que você aprendeu com essa experiência?
E isso diz muito sobre a identidade empreendedora de um povo. É claro que é maravilhoso ter propósito, tem crianças, jovens que já nascem com propósito e seguem a vida na calda de um cometa e vão ser muito felizes. Outros já amadurecem esse proposito com o tempo e como vinho vai ficando melhor dia após dia. O que não dá pra acreditar é nesse mundo cheio de palavras bonitas que muito pouco conversam com a realidade de um empreendedor, que precisa de comida na mesa e contas pagas.
A verdade é que poucos afortunados têm a sorte de ter um amor profundo por seu negocio a vida toda e um propósito claro. Vamos adaptando, nos descobrindo, descobrindo o mundo e esse proposito vai se cristalizando. E assim vamos aprendendo que Proposito é muito mais pensar, investigar, errar e resignar-se a todo o momento, do que palavras bonitas, palco, selfie e aplausos.
Texto por Juliana Albanez
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