Europa Fragmentada – Parte 3
Mas afinal, o que os resultados das últimas eleições do Parlamento Europeu significam dentro do contexto atual do Bloco?
Resumindo: o significado de novas escolhas trazem novas estratégias.
Esse cenário fragmentado significa uma freada no discurso de alguns dos partidos nacionalistas que estavam em alta. Os quais não alcançaram a maioria esperada no Parlamento. Portanto, terão de conter seus discursos inflamados por algum tempo.
Na contramão, diversos partidos pró-União Europeia conseguiram ir melhor do que o esperado nas urnas, indicando que se estes conseguirem formar uma aliança, poderão ser capazes de aprovar certas medidas políticas.
O exemplo de democracia de idéias se expressa nas escolhas políticas do Parlamento Europeu: A União Europeia é bastante democrática em certos aspectos, a ironia é, que, até partidos que votam contra a sua representação institucional elegeram membros políticos para integrarem seu principal órgão representativo.
Será possível governar com divergências tão grande de idéias?
Apesar das diferenças, há alguns pontos de afluência que, ao que tudo indica, se tornarão diretrizes políticas nos próximos quatro anos.
Um deles é a preocupação com a segurança da região. Muito provável que a segurança imigratória irá ficar maissevera contra imigrantes vindos de fora da UE, e, em consequência, a pressão para os países investirem em políticas de segurança e defesa mútua e supranacional aumente – a OTAN poderá se beneficiar com essa mudança .
Para a economia do Bloco prosperar, medida que será crucial é à aprovação imediata de maiores investimentos em infraestrutura, isso irá garantir uma maior demanda por mão de obra no curto prazo, gerando mais empregos e aquecendo economias – fugindo da crônica desinflação que assombra a UE por quase uma década.
Leia também:
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- Um Guia de sobrevivência sobre a União Europeia: O Bloco mais forte e fragmentado do mundo – Parte 1
Outros dois pontos que tudo indica serão aprovados em até dois anos: é a ratificação do Brexit (se Boris cooperar) e uma maior sincronia entre os países em resposta as mudanças climáticas.
Pontos onde as divisões ideológicas provavelmente irão se confrontar serão referentes a uma maior adesão (ou não) à união aduaneiro, e o fortalecimento das instituições supranacionais monetárias e financeiras – ou seja, políticas que reduzam a participação dos governos nacionais no Bloco em prol de participações supranacionais.
Vamos ter que aguardar e ver como esse balanço será feito.
As escolhas refletem mensagens – o que significam os novos nomes escolhidos para os postos de liderança do Bloco?
O ano de 2019 está sendo um ano de balançar os pilares estruturais da União Européia.
Além das eleições Parlamentares e do Brexit, esse ano marcou o fim de mandato para seus principais cargos de liderança: a Presidência do Banco Central Europeu, Presidente do Conselho Europeu, Presidente da Comissão Europeia, Presidente do Parlamento Europeu e MRE da União Europeia;
cargos chave para a sustentabilidade do Bloco.
E aqui vão os nomes com seus respectivos finalistas:
- Presidente do Conselho Europeu: Charles Michel (belga);
- Presidente da Comissão Européia: Ursula von der Leyen (alemã);
- Alto Representante para a União Européia nos Assuntos Internacionais e Segurança Política: Josep Borrell Fontelles (espanhol);
- Presidente do Banco Central Europeu: Christine Lagarde (francesa);
- Presidente do Parlamento Europeu: David Sassoli (italiano).
Aqui ressalto o quão simbólica a escolha desses cargos representa.
Essas escolhas refletem um marco único em toda a história européia: é a primeira vez que duas mulheres ocupam cargo de tamanha liderança. Temos uma mudança de comportamento que pode ser vista como um posicionamento adverso ao clássico político burocrata masculino, e ao discurso radicalista que muitos dos seus países membros estão tomando.
Estaria a instituição enviando uma mensagem de aversão à todo o discurso de ódio que está em alta no mundo?
Seria uma preocupação real para se ter um futuro mais feminino?
Uma mensagem fica clara: ambas essas mulheres possuem muita credibilidade profissional; elas são o contra-ponto à políticos como Nigel Farage (Inglaterra), Viktor Orban (Húngria) e Salvini (Itália) políticos inflamados nacionalista, os quais em sua maioria, coincidência ou não, são integrados por homens com discursos contra minorias.
A União Europeia ainda terá muitos desafios pela frente, alguns deles irão balançar bastante sua estrutura.
Porém, ela deve se manter firme com seus valores constitucionais de tolerância e multiculturalismo.
Suas escolhas políticas-representativas foram um primeiro passo para a União Europeia ir em busca da sua sobrevivência em prol de um futuro sustentável, tolerante e de longo prazo.
Todos os demais nomes para os cargos são tidos como políticos moderados, portanto, se o perigo é radicalismo de ódio de um lado, que se adotem então medidas radicais de tolerância para o outro lado,
para que assim se possa conter a desunião e a aversão ao próximo.
Maria Antonia De Carli é colunista do Portallondres
Imagem: Pixabay
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