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Gandhi, a ética inspiradora entrevista com joão signorelli

Curiosidades de Londres, Mais Lidas 30 de janeiro de 2019

 

Em recente turnê pela Europa o ator João Signorelli trouxe ao público uma preciosidade, o monólogo Gandhi- A Ética Inspiradora. Na ocasião a equipe do Portallondres, um dos patrocinadores do evento, teve o prazer de assistir ao espetáculo e fazer uma entrevista com o conceituado ator.

João que é formado em jornalismo e trabalha como ator há mais de 25 anos, já participou de dezenas de novelas e minisséries, peças de teatro e filmes. Na televisão Grande Sertão: Veredas, O Sorriso do Lagarto, Chiquititas, Carandiru: Outras Histórias, Senhora do Destino e Salve Jorge entre tantas outras. No teatro e cinema também deu um show de interpretação. Citando apenas algumas pecas, Um Bonde Chamado Desejo, Diário de um Mago, A Promessa e parte dos filmes como Salve Geral, Stelinha, Garrincha e o mais recente Bruna Surfistinha. Signorelli, trouxe sua arte ao continente europeu a convite da ação humanitária Fraternidade Sem Fronteiras que desenvolve ações no Brasil e na África. Hoje a entidade atende mais de 15 mil pessoas em seus vários projetos. A peça é realmente um convite a reflexão, porque a trajetória de Gandhi impressiona não somente pelos grandes feitos, mas principalmente por sua humanidade. Em um momento muito especial da peça nos é contada a história do açúcar, conhecida por muitos e reproduzida aqui:

“Gandhi certa vez foi procurado por uma mãe que levou o filhinho consigo, e lhe pediu: – Gandhi, este menino come muito açúcar. Já tentei de tudo e não consigo que ele pare com isso. Como ele gosta muito de você, com certeza irá obedecê-lo. Por favor, peça para que ele pare de comer açúcar! Gandhi pediu àquela mãe que voltasse algumas semanas depois. Tempo decorrido a mãe o procura novamente e Gandhi abaixa- se para falar com a criança, olha o menino nos olhos com bastante atenção e diz: – Pare de comer açúcar! O menino baixou a cabeça mas fez sinal de que iria obedecê-lo. A mãe não entendeu nada daquilo e perguntou, super intrigada: – Gandhi, por que você não falou isso há um mês atrás? – É que há um mês atrás eu também comia açúcar!

Quantas vezes exigimos do outro aquilo que ainda não conseguimos mudar em nós?

João, por favor nos conte porquê você decidiu representar o líder indiano Mahatma Gandhi?

Na verdade existe uma lenda no mundo teatral, que são os personagens que escolhem os atores para interpreta-los, então se isto for verdade Gandhi me escolheu. Mas na verdade o Miguel Filliage foi chamado para abrir um Fórum sobre recursos humanos de uma revista de Alexandre Garrett que tem lá no Brasil chamada Gestão RH. Garrett em 2003 fez um fórum cujo tema era Liderança Servidora e o Miguel, foi chamado e pensou em mim como um ator parecido com o Gandhi. Como há muito tempo ele queria trabalhar comigo e o Gandhi como um ícone da liderança servidora, foi assim que começou a nossa trajetória. Era para ser uma apresentação só, mas era tão bonita a apresentação e eu falei, Miguel um dia só? Ele disse: Uma grande empresa de telefonia comprou dois espetáculos, depois se você quiser assumir a produção, você assume. Então eu assumi a produção e há 15 anos produzo, divulgo e faço o Gandhi.

A peça está sendo encenada há 15 anos. Qual é a diferença do João da primeira apresentação para o João de hoje?

Não dá para passar incólume por um personagem como este, não é? Na primeira reunião que eu tive com o Miguel falei para ele, a gente está diante de uma coisa totalmente diferente do que a gente fez até agora, se a gente não se comprometer a praticar na nossa vida, algumas das coisas que o Gandhi fala, não teremos nenhuma credibilidade para apresentar o Gandhi. Então combinamos o seguinte, parar de mentir socialmente e cumprir aquilo que se promete. É isso que mudou na minha vida.

Como a história do açúcar, contada no palco, você mudou alguns hábitos na sua vida para estar coerente com o que diz Gandhi?

Bom a história do açúcar é um grande exemplo para mudar a nossa vida, eu realmente, quando peco para a pessoa fazer alguma coisa eu tento fazer antes, para não ficar aquela coisa de faca o que eu falo, mas não faça o que eu faço, que seria totalmente incoerente com a postura. Eu tive até uma história bastante interessante, eu fiz uma série de apresentações para um grande banco brasileiro, foram 5 presentações, segunda, terça, quarta, quinta e sexta. Na terça-feira um alto diretor deste banco se aproximou de mim e disse João ontem à noite eu cheguei em casa e minha filha veio me perguntar uma coisa, e depois que eu ouvi a história do açúcar eu abaixei para falar com ela, mudou completamente a relação com a minha filha, legal né?

Sabemos que os personagens são construídos, você pesquisou muito para compor Gandhi?

Olha eu vi o filme várias vezes, no Youtube, não sei se tem ainda, filminhos que antigamente passavam no cinema, um cine jornal. E tem vários deles do Gandhi, falando, andando… li todos os livros que eu pude sobre o Gandhi, mas sou um homem que na época tinha 45 anos de idade, morando em São Paulo, uma cidade urbana. Então o Gandhi que eu apresento para o público é um Gandhi que passa pela minha experiência de vida, pela formação teatral, pela minha formação de cidadão. Então tem muita coisa minha também na construção deste personagem. E quando eu tive na Índia pela primeira vez há dois anos atras, eu fui no Museu do Gandhi. Eu vi muitas fotos, muitos filmes e isso me estimulou, me desenvolveu mais ainda. Este estudo que eu fiz sobre ele e facilitou muito a composição do personagem.

Convivendo com este personagem há tantos anos, já que se fala muito da conexão com a espiritualidade, você sente esta “presença” nas suas apresentações?

O Pelé quando jogava futebol, diziam os jogadores que quando ele estava “dormindo” e bocejava muito ele arrebentava no jogo. Eu nos dias antes do espetáculo que eu bocejo muito, eu sinto muito a presença do Gandhi, eu sinto uma energia Gandhiana. Um portal que eu acho que se abre e que vem essa energia Gandhiana que me ancora muito. Vários videntes que ja foram ver a peca dizem que do meu lado muitas crianças indianas… Eu sinto mesmo, ele chegando de vez em quando, não e sempre não, na maioria das vezes eu sinto a presença dele muito forte perto de mim.

Senti -se uma emoção muito grande na apresentação aqui em Londres, o público sempre reage e interage assim?

Olha o público reage, reage assim de uma maneira muito emocional, eu acho que uma das grandes virtudes que o Miguel conseguiu com a Bene Catanante nesse texto foi a simplicidade, e uma simplicidade na direção que toca profundamente o coração das pessoas. Mas o público que nos tínhamos em Londres era um público praticamente espírita que já estava aberto para este tipo de comunicação e realmente houve uma empatia muito grande entre eu e eles, a comunicação foi muito forte. Também em Heidelberg na Alemanha tive uma comunicação maravilhosa com o público, foi muito bacana.

A peça é um convite a transformação. Seja você a mudança que você quer ver no mundo. Você sente ou percebe que as pessoas se sensibilizam mesmo e que busquem fazer mudanças práticas?

Eu não tenho como mensurar o que acontece depois com as pessoas, mas como eu contei a história do diretor do banco. Nós temos um projeto muito bacana lá em São Paulo na fundação CASA, ex FEBEM, onde estão os adolescentes presos. Em uma apresentação em uma unidade feminina, depois uma das meninas disse assim: “ Passaram uns malucos por aqui falando sobre um tal de Gandhi, e eles me ensinaram que meu corpo pode estar preso, mas meu espírito está livre”. Já ouvi assim depoimentos de várias pessoas, sobre uma pessoa que abandonou uma carreira normal no mundo corporativo e foi fazer aquilo que ama depois de ver a peca…. Eu sinto que a gente consegue tocar o coração das pessoas e também transformar… Também na ex Febem um dos meninos pediu para aprender a ser professor de Ioga depois de ter visto a peça, então eu sinto que as pessoas se transformam mesmo através do espetáculo e isto me deixa uma responsabilidade muito grande, né?

Com relação a Fraternidade Sem Fronteiras, como você conheceu o projeto?

Bom, eu fui convidado por um grupo da Fraternidade Sem Fronteiras de Santos para fazer um espetáculo para arrecadar fundos. Neste dia o Wagner Moura, presidente da ONG estava presente, nos conhecemos, nos adoramos mutuamente e partir daí Wagner me convidou para fazer vários espetáculos para divulgar a Fraternidade Sem Fronteiras e angariar fundos, ao mesmo tempo me tornei um padrinho, apadrinhei uma criança lá em Moçambique, com muito orgulho, com muita alegria. Me levaram para Moçambique e agora para a Europa. A parceria com a Fraternidade está assim, no ano passado estive no encontro nacional lá em Campo Grande, agora vou para Uberlândia em Dezembro, em janeiro vou para Belo Horizonte… então eu agora abracei esta causa, e estou pronto para ajudar a Fraternidade Sem Fronteiras na hora e onde eles quiserem, que nós quisermos né? Porque eu já me considero parte desta família.

Você já esteve na África, nos conte um pouco da sua experiência por favor?

A África foi uma das experiências mais transformadoras que eu já tive na minha vida, lá não tem nada, é uma aridez, não tem nada… e as pessoas tem uma amorosidade, um sorriso no rosto. A gente teve até que fazer um trabalho, eu particularmente tive que fazer um trabalho muito forte para não pirar, porque é uma realidade que a gente não imagina que existe. A gente vê na televisão, lê no jornal, mas quando você toma contato é uma coisa muito… que não tem nem palavras para descrever. Eu sei que eu fiquei muito feliz, eu fiz 3 apresentações. Duas em Maputo, na capital, na Embaixada Brasileira e uma na aldeia para adolescentes, abaixo da linha da pobreza. E como eu estou fazendo aula de canto, minha professora está trabalhando comigo uma musica da Miriam Makeba, que se chama “N’Kosi Sikeleli”, que virou um hino da África, quando Mandela assumiu a presidência da Africa do Sul. Ele usou muito essa música, acabou virando um hino. Eu percebi que sempre antes de um discurso ou de uma apresentação eles cantavam muito, eu levei a partitura. Eu estava pronto já, vestidinho de Gandhi e corri no alojamento para pegar a a partitura e quando eu comecei “N’Kosi Sikeleli” a platéia inteira veio comigo, aqueles meninos e meninas começaram a cantar, foi uma coisa assim muito emocionante, estou até agora emocionado contado isto para vocês. E depois que acabou o espetáculo, um garoto que devia ter uns 16, 17 anos no máximo, se aproximou de mim e disse puxa eu não imaginei que existisse um homem bom na terra, quero aprender mais sobre a história do Gandhi.

Como foi para você a apresentação em Londres? Você estava visivelmente emocionado…

Antes do espetáculo eu bocejei muito, eu estava muito emocionado… Imagina… fazer Gandhi em Londres, no teatro do Rudolph Steiner, que foi o criador da antroposofia, criador das escolas Waldorf, que manteve uma intensa correspondência com Gandhi. Eles comungavam dos mesmos valores, aquela energia que eu sentia da platéia, que estava ajudando demais a fazer o espetáculo. Eu fiquei completamente emocionado e na hora que eu li a carta da Kasturba para o Gandhi eu chorei… não sei se deu para perceber mas eu estava muito emocionado e chorando.

Se tiver algo que gostaria de mencionar por favor fique à  vontade.

Eu só queria agradecer esta oportunidade que a Fraternidade Sem Fronteiras me ofereceu de fazer esta turnê pela Europa, me apresentei em Lustenau na Áustria, depois eu fiz Londres, fiz no interior da Inglaterra numa cidade chamada Totnes no Schumacher College. Que foi um colégio fundado pelo Satish Kumar, um educador que viveu num Ashram que o Gandhi fundou, então este colegio tem os valores gandhianos. Depois Heidelberg na Alemanha e Berna na Suica. Estou imensamente agradecido. Quero agradecer o grupo de voluntários em Londres, o empenho, o esmero na producao do Gilson. Ao Mauricio, a Eliane e o Robison, pessoas que me deram condições de fazer um trabalho com muita alegria, com muito amor. Eu sou muito grato a Fraternidade Sem Fronteiras e a vocês por terem ido prestigiar a gente e espero profundamente que a Fraternidade cumpra a sua missão e que eu possa através da minha arte, da minha contribuição como Gandhi ajuda- los cada vez mais. E quero deixar uma saudação a toda comunidade brasileira de Londres e espero voltar um dia.

www.fraternidadesemfrontieras.org.br

www.fraternitywithoutborders.co.uk

https://www.instagram.com/joaosignorellioficial/

 

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